22 de dezembro de 2006

Sou assim mesmo, simples em pequenas coisas. Há quem diga que idealismos não levam a nada - talvez tenham razão. Mas me gosto utópica e sonhadora, e os castelos dos sonhos não necessariamente viram muros de concreto. Deixo a poesia da vida cotidiana percorrer as infinidades de um momento. É bom poder suspirar, ainda que o verbo venha depois de um apesar.

Esconde-esconde.

Escondi a poeira no guarda-roupa. Coloquei os pedaços vestígios sombras na mala que vai pra baixo da cama. Percebo a infinidade de inutilidades que eu escondo de mim mesma como possíveis preciosidades de um futuro inexistente. Tantos papéis com letras mortas. Tem algo que não combina em mim comigo mesma.

18 de dezembro de 2006

Porque é preciso falar.

Ontem a sensação foi de, por instantes, um sem-lugar desnorteante. E agora, o que a gente faz com o orgulho daquilo que só a gente tinha? Obviamente que, passados os primeiros momentos de tristeza absoluta, tem início o processo de luto, e é preciso seguir em frente.

Comecei a torcer pro Grêmio quando nem sabia o que era futebol. Queria acompanhar o pai, entender de que se tratava um impedimento. Todo o resto da família é colorada: não me rendi à pressão e decidi torcer junto dele pra aquele time das listrinhas na camisa.

Quando eu era menor, era o Grêmio que ganhava (quase) todas. Eu via meus coleguinhas colorados festejando cada migalha que conquistavam e pensava: "como podem festejar apenas isso?". Estava acostumada com grandes conquistas, participação em campeonatos internacionais, um time reconhecido mundialmente. Mas confesso que me intrigava que, apesar de todos os insucessos, aqueles torcedores seguiam junto de seu time.

Com o passar dos anos, quando vieram ao Olímpico também momentos ruins, passei a entender melhor dessa paixão. Porque pra mim, lealdade maior a um time não é beber na Goethe quando se ganha um campeonato (inclusive aquelas pessoas que jamais botaram o pezinho no estádio num momento difícil do seu time), mas o legítimo "Até a pé nós iremos, para o que der e vier...".

Me senti tão ou mais apaixonada pelo Grêmio quando o apoiei nos jogos da segundona, quando fui a enlamaçados jogos de Gauchão que nada valiam, quando vi meu time perder um campeonato do mundo e soube reconhecer o esforço daqueles que jogaram a partida inteira com um a menos e viram a derrota desgraçadamente chegar na aleatoriedade de um pênalti.

Um pênalti, um chute. Que decide. Match point.

Aos verdadeiros colorados, aqueles que até pouco estruturavam sua paixão ainda nas memórias da década de 70 e seguiram fiéis ao time todos esses bons anos, desejo meus mais sinceros parabéns. Àqueles que pegaram carona nas vitórias recentes - é tri bom mesmo torcer pra um time que ganha - , espero que possam estar presentes nos próximos momentos nem tão bons que certamente virão. Porque tudo que sobe, desce. E vice-versa.

Me eximo de tecer comentários sobre a decepção do futebol mesquinho apresentado pelo Barcelona ou o "amarelão" do Ronaldinho. Por supuesto, admiro muito mais o futebol mostrado pelo Inter. Pra ganhar, não precisa jogar bonito: tem que fazer gol. Nós também sabemos bem como é isso.

Hoje saiu a nova tabela do Brasileiro 2007. Outro ano se aproxima e com ele a chance de (re)começar outra vez. Que a gente também possa usar essa raiva (boa) que instiga a rivalidade e lutar por outras conquistas. E eu certamente estarei a postos no Olímpico quando tudo isso começar de novo.

E já tem data! 24 de janeiro, às 19:30.

Adelante!

8 de dezembro de 2006

Rua Sergipe, 512.

De vez em quando, por estes campos de cima da serra, estico a caminhada para espiar a casa da minha infância. Tanto tempo depois, é a casa que ainda aparece nos sonhos. O pátio do vizinho com cães que pareciam lobos e recheavam minhas fantasias de terror, continua ali. Os lobos se foram, pelo menos não os escutei... O nº 512 da nossa casa foi cercado de trepadeiras. O pinheiro que vi semente na mão, já tem mais de 7 metros. As cortinas continuam brancas, tentei espiar pra dentro. Onde ficava meu piano, vi que colocaram uma estante com troféus. Não achei uma boa troca.

Deu vontade de entrar... como se a casa ainda fosse minha. De pegar a mangueira e molhar as plantas pra mãe, num fim de tarde. Saudade das travessuras, esconderijos, dos sonhos que ficaram pintados naqueles muros. De sentar no parapeito da janela, de me esquentar no fogão à lenha, de brincar de amarelinha riscando com giz a calçada dos fundos.

Hoje um pedacinho de mim ficou por ali.

27 de novembro de 2006




"Lo importante no es llegar, lo importante es el camino".
Renda

A despedida é graciosa, graça e pranto. Ouço-cheiro-sinto-aspiro-solto. Das ruas, goles quentes, mansas palavras. Outro olhar e outro passo. De certo modo, agora chego.

A chegada é ansiosa, anseia riso e toque. Me encontrar no que já nao é o mesmo, também é despedida.

Abraço o mundo, na sua estranheza. Me rendo.

Vou e venho, no compasso disso que me embala à vida.

Hoje nota é pouca. O ruído do mundo me engole. E é bom...

13 de novembro de 2006

Semana de receber visitas. Eba !!!
1.
Quando palavra explode
algo de mim que nao sei me aparece sem pedir licença.
Invade,
a alteridade é o espelho.
Grito, sem querer,
bagunço os lençóis,
roubo disfarces,
desfaço a hipocrisia da boa vizinhaça.
Quando palavra explode,
falando cala.
Do súbito, num susto.
Melhor voltar
às máscaras.


2.
Quando pequena pensava que o mundo seria mais belo de cabeça para baixo. Assim, passava bastante tempo deitada com a cabeça pendurada, a olhar meu quarto e o corredor sob outra perspectiva. Os móveis eram mais lindos, o teto me parecia melhor assoalho, o lustre virava um vaso de flores - e eu brincava com esse mundo que só eu conhecia. O avesso sempre me pareceu mais interessante. No revés das coisas, tem mais de nós mesmos.

28 de outubro de 2006

Retalhos

Da pele tece tramas,
marca falas, fala
falta.
Cresce o toque em asperezas
de cetim.

Das tramas conta história,
varre as cinzas
da noite.
As portas da despensa,
abarrotadas.

Em dia de limpar
os restos,
toca faces de um mesmo
destino.

Trança tréguas de maciças
vontades.
(Tem um algo ali que nao
está vencido).

Troca o samba,
reza um conto.

Roga um risco,
canta um ponto.

Absorve a poeira,
dos mesmos sentidos.

27 de outubro de 2006

Estaçao

Havia um rio
de águas cristalinas.
Nata,
nada,
corre.

A sineta e o quadro
nos finais de tarde:
te ensinava palavras
de giz.

A casa da boneca está pronta,
o hotel embaixo da mesa.
Depois dos filmes, princesas
no pátio.
(Vestidos de seda
imaginários).

Antes de dormir,
nos pedíamos as maos.
Nao amoleça, nao me deixe
sozinha.

Dos segredos de telhado,
nos fazíamos confidentes.
Na estante, uma história,
pra cada estaçao
do mundo.

24 de outubro de 2006

Me gosto poética, do lírico da nota ao compasso
forte.
Me encanto da vida assim,
de viagens musicais num sol de pausa.
Te misturo em nostalgia,
me acabo em desejos de meias
palavras.

Carregada pela fantasia melodicamente estranha,
vou.
Arrepia a alma essa coisa
aqui de dentro.

Pedir que voltes, ou que o tempo desista
de demorar.
(Hoje choro Chopin
de saudade do meu amor).

16 de outubro de 2006

Já, saudade.

8 de outubro de 2006




Alguns.

1.

O pai virou a mesa.
Copos, talheres, pratos
no chao.
A toalha caída
tapa.
Choramos de pranto desespero;
num abraço,
dor sem dono.
Lavamos o rosto
de instante perplexo sentido.

2.

Nuances
geladas
de um tempo
ilógico.
Desfaço
gestos
dispersos.
Foco
olhar
perdido;
me perco
olhar
achado.
Asfalto
pensamentos,
costuro
pedaços.
Dos tombos,
rasura.
Rasuro
destinos.
Me escrevo.
Amasso
história
que nao cabe.
Desfecho
desejo
insólito.
Da rosa,
espero
calada.
Do escuro
das escadas,
corro
meus passos.

3.

Nao quero certeza imprecisa,
mas a ignorância da imprecisao sabida.

4.

De amor solto, avesso de mim,
faço presença de pequenos
prazeres.
De lugar amante, saio da pele
rasgo o toque e tomo
a face.
A rede acalenta o sono manso,
mas sem descanso, é disso
que o amor insiste.
Finge sonho, mas pulsa,
e engana de sorriso
tosco.

5.

Faltam poucos dias
para de um
ser ao menos
um pouco.

13 de setembro de 2006


De caminho torto direito faço um passo
(o arrepio quem canta é a nota doce).
Do desperto, nem um sossego
(por baixo dos panos, há que se rir sozinho).
Nesta segunda, media tarde, um vento levou meu amor pra longe; em princípio me desnorteio, as lágrimas sao consoladas pelo carinhoso porteiro Ramón. Ramón lembra que sou forte, pois consigo carregar a grande sacola de roupas da lavanderia. Sem acreditar muito nisso, subo as escadas resignada. Fico a respirar outros tempos de saudade. Por fim, percebo que ela convoca a uma reinvençao, e à busca de outros sentidos. Estraño, em castellano, sentir falta... talvez a saudade tenha mesmo um quê de estranhamento. Me deparo com o que nao sou, quiçá com o que nao aprendi a ser. Aprendo a ser outra, nao menos eu mesma. Nao ser (e por isso ser, afinal de contas).

12 de setembro de 2006

Por hoje, algumas imagens e poucas palavras.

Bons ares, por supuesto...

Tigre...
Congelando na Bombonera...

31 de agosto de 2006

Sonho com distâncias, hiatos. Literalmente, viagens. Viajo de idéia em idéia, reconstruindo e tecendo sentidos, provocando meu pseudo equilíbrio. Desequilibro, sino la vida no tiene sentido...

Caio e olho de baixo para cima, a vista já é diferente. Descrente, cerro o olhar. Há um impossível entre meu olhar e o que vejo. Há um espaço vago onde se pode colocar infinitas coisas, e nenhuma.

Fico entre o tudo e o nada, andando na fronteira do que se perde sempre. Me desconheço mais a cada novo reflexo. Me desatino e percebo nao caber em palavras. Palavras como intento, nao mais que isso.

Estranho e assento, operaçoes de assimilaçao e acomodaçao, de um recriar-me num suspiro.

Sonho com distâncias, hiatos, e insisto.

8 de agosto de 2006

Después de alguns vinhos e cafés, o novo reconheço. Por alguns momentos, em casa.

18 de julho de 2006

O trem sempre passava à noite, vai ver não gostava do sol. E os cachorros uivavam como lobos - eu morria de medo, de noite, na cama. Quando criança, eu desejava o dia em que não houvesse noite. Hoje, prefiro a noite que o dia não chega.

10 de julho de 2006

Por 10 dias, ensaio de distância.



Final de semana azul, de céu e bola. Parada na saudosa "terrinha", também conhecida por "Leão". Bom pra tomar um mate quente, um vinho com o sogro, além de acompanhar as estripulias do mais novo membro da família Cunda - o Alemão. Alemão se diverte tentando caçar o próprio rabo e brinca 24 horas ao dia. Felicidade genuína. Tentei resistir aos seus pulos no meu colo, mas acabei cedendo e dando algum carinho, ao que fui retribuída com uma também carinhosa unhada. Que figura!

Na hora de torcer contra a França, valeu a desculpa da descendência italiana. Zizizacou pra eles desta vez. E que cabeçada!

6 de julho de 2006

O homem-pedra-de-rio

Ele era pedra de rio que faca não corta:
nem me lapide, não me entro nem me saio.
Sussurro a solidão assim deitado neste tapete,
estás vendo,
é bem assim que me sinto.
Deixe as felpas arranharem tuas costas,
é assim que me sinto.
Pega uma faca e tenta tirar algo de mim.
Mas a faca não corta, não faz nada, tu não afias.
Minhas facas não cortam, é bem verdade
que não as uso.
Tenta me tirar pelos ouvidos, põe a tocar algo bonito.
As felpas me arranham, quero te ouvir
melhor.
Sente o calor morno do tapete, rola-te nele.
Espera, vou tentar
de novo.

23 de junho de 2006


Dica pra qualquer final de semana - documentário do Nelson Freire, DVD duplo. MUITO bom.


E uma homenagem ao futebol feminino da Clínica. Do nosso jeito, vamo que vamo!
Uma nota

... de abismo púrpura deserto de mim dor de ti me perco num gole me morro me abro não entro te vento tal como a árvore expulsa a flor e colho flor e navego poesia e me sonho me gozo destroço apalpo se quebro regenero não sopro teu corpo perdão amores meus se me assombro apesar dos anos aqui se profanam também sujas palavras me vivo e me espero se não sei alívio ser deserto se me cerco te respiro quebro meu olhar de reflexo piano que espelho que nota menina voa na sala me fala me murmura e te escrevo vem que te deixo entrar não saias que vivo melhor em ti...

19 de junho de 2006

DO ARQUIVO DE POESIA:

CONTRASENSO

O caos é nítido,
porém nebuloso; é um contrasenso,
na contramão dos sentidos.

Pouco a pouco, vamos nos perdendo diante do abstrato,
daquilo que não está pronto.

Da palavra que não veio congelada e embalada
pra microondas.
Dos desejos que não estão à venda em vitrines de shoppings.

Chega de pensamento fast food.
De informação-linha.

Precisamos de mais argumentos e menos
consumismo barato.

(precisamos de mais interação
e menos aprisionamento).
Onterminatucomeçaeu?

17 de junho de 2006




Engoli teu beijo açucarado de despedida;
já no primeiro instante, me ressinto.

Sinto teu ir, beijo esvaziado na ânsia de outra vez tornar-se cheio.

De plenitudes, bastam as ilusões:
te quero na nossa tão nossa imperfeição.

16 de junho de 2006


Dela

Depois que tudo se aquieta, então me (re)colho. Produzo um saber anexo de mim. Cansei de me debater entre o vento e o incômodo ruído da vida, logo ali ao lado. Por não ter lugar, me retiro. À noite me é possível criar dentro do nada algo minimamente meu; respiro a ilusão de ser alguma coisa. Não sou e não sei.

Meu pensamento e minhas lembranças me revoltam num frio que sopra aqui dentro do corpo. Como uma rachadura que vai se delineando, lentamente, na parede. As idéias estão sempre lá, não as vemos se produzindo – mas há um dia em que nos deparamos com a parede cortada.

Minha parede, além de rachada, já está com a tinta vencida. Lhe caem pedaços, pedaços inteiros, crostas de um ser bruto e brutal demais para minha delicada existência. Não consigo com essas brutalidades.

Respiro e insisto, aqui nesse pedaço meu de algo que não tenho.

E me entrego ao sono como num corpo que se desmorona ante uma vertigem; caio, na esperança de um sonho.

9 de junho de 2006

No escuro

Escuto o ar, o silêncio é musical; pausa de um entre dizeres, entre sonoridades, barulhos quaisquer. O silêncio canta - há quanto tempo não reparava nisso. E a regência fica por conta do vento (que entra, num pianíssimo, pela fresta da janela).

6 de junho de 2006



Na mesa ao lado, no café após o almoço, entre tragadas de cigarro e goles de um expresso quente, ela escrevia com expressão sofrida. Os olhos encaravam o mundo pelo intermédio de um óculos (bem) escuro. A caneta tremia nas mãos, a palavra teimava em não sair, ou quiçá saía e não podia ser escrita. A mão tropeçava no ar, a folha em branco. Uma letra ou outra, rabiscada. Não consegui concentrar-me no meu café nem na leitura da revista: acompanhei os momentos daquela escritura com o canto do olho. Um amor perdido, uma saudade, um carinho? Fosse o que fosse, parecia que aquele papel era, de fato, muito pouco.

1 de junho de 2006


DA SÉRIE "MOMENTOS EM FAMÍLIA":

Apresentando meu avô gaiteiro que, ao contrário do que tentava nos dizer (pura ladainha), não desaprendeu a tocar. E como toca!!!

E a família dança... ô coisa boa!



Queria das palavras cruas seu sentido sucinto.
Mas não caibo nas letras sem adjetivos -
quando vejo, já estou a tecer metáforas e lirismos.

Queria a ponta grossa, a escrita curta, o tempo breve.
A palavra que cala.
Queria a palavra nua e minha e deserta.
Incerta.

Mas, por tantas vezes, o deleite se dá com ares de sentimentalismo.

Da secura, não consigo. Almejo o compasso finito, mas me escondo na partitura
que não acaba.

Acho que estou escondida por trás da poesia cotidiana, dos versos dos meus dias,
das letras que vão costeando meu caminho.

Não estou sozinha, seu esparramar-se me acompanha.

28 de maio de 2006

Quarto Motivo da Rosa
Cecília Meireles

Não te aflijas com a pétala que voa:
também é ser, deixar de ser assim.

Rosas verá, só de cinzas franzida,
mortas, intactas pelo teu jardim.

Eu deixo aroma até nos meus espinhos
ao longe, o vento vai falando de mim.

E por perder-me é que vão me lembrando,
por desfolhar-me é que não tenho fim.
E por que o amor se enrola e se finda na sua própria graça,
por que o amor se desgraça,
por que o amor despedaça?

(na íntegra ver a comunidade da Confraria! >> http://www.orkut.com/Community.aspx?cmm=3777481)

Que me faça, ou desfaça, ou refaça; que me trapaceie, acene, vislumbre. De dedos e notas, devotas, os sons - se vão (e não vêm de volta). Me somem, consomem, assustam, encenam, metidos, enlouquecidos - e os mando: calem a boca! Mas que boca, que voz, que nada, que ruído cansado, que reflexo tosco, teu rosto, nas teclas. Me volto, revolto, te solto. Te cerco, incerta, decerto... Dedilhando teu corpo, me entrego, envolvo meu pretexto, desconsidero o tempo da partitura. E ela não segura, te surra, te bate, me avança e descansa, se arde, se morde, se cria.

(Inventava e partia).

26 de maio de 2006

É necessário derrubar o pedágio entre a poesia e a poesia encadernada. Os leitores mudam o olhar quando alguém diz: "vou ler um poema?". Ninguém deve se preparar para viver. Vive-se em desconcerto. O poema deve ser dito sem solenidade, em uma mesa de bar, em uma parada de ônibus, ao localizar uma rua ou uma lembrança extinta.

Fabrício Carpinejar

22 de maio de 2006

Tudo começou numa noite gelada de 23 de maio, friaca das brabas, tal qual a meteorologia de novo aponta para o dia de amanhã.

Grêmio x Pelotas, também um jogo brabo - mas lá fomos, na raça, em direção ao Monumental. Eu, Manoel e Mateus, trio-parceira de um sem número de indiadas.

Mateus bebeu conhaque pra espantar o frio .

Madrugada adentro ainda bebemos uma gelada, que nos fez sentir que ainda havia algo mais petrificado que nossos dedos.

Mas para os dedos, há o bolso de um casaco azul-marinho. E aqueles dedos insistiram pela companhia dos meus, nos passos vagarosos de um retorno imprudente e, quiçá, já enamorado.

No meu colo, deitas e vêm as palavras. Depois delas, nada se pode fazer se não
um beijo.

Um primeiro encontro, e a primeira falta quando tua boca descolou da minha.

O primeiro olhar de estranhamento, encontro e desencontro, tudo junto, é sempre junto...

Não dormimos, mas o sono não fez falta. O apaixonamento opera milagres no teu estado de espírito e na disposição do corpo.

Eu apenas desejei que o tempo logo passasse que se aproximasse o dia em que te veria de novo.
Prévia de uma noite 23...

De tudo, o agora.
Nada mais que isto temos, uma noite
e dois copos de vinho.
Uma vela que se interponha entre nosso olhar de reencontro
e de uma chama que faça de tua imagem nebulosa.
Quem olho?
Já não sei quem és, te tenho de um amor outro,
e me tens antes de mim, de um sentido sem
palavra.
Mas sintamos, apenas,
sintamos.

20 de maio de 2006

Por que, afinal, nada te deixa escorregar no vazio de mim?
Por trás da insanidade, do desespero, dessa tua ardência de uma raiva desmedida,
alimento a fantasia de que haverá um desamparo a te trazer
de volta.
É desse olhar enlouquecido, matando meus sentidos pelas beiradas,
assassino de meu júbilo, de torturas de um além-sem-fim,
que falo.
Não calo.

4 de maio de 2006

"Fazer as coisas pela metade
é minha maneira de terminá-las"


Fabrício Carpinejar








Nos céus acizentados, centelha de vontade,
te busco e não te encontro no calor de um café.
Companhia pra solidão de um momento futuro tão insignificante.
Nem milhares de notas preenchem o vazio
do teu corpo
em mim.
Que deslizar suave tuas mãos meu pensamento
- nuvens andarilhas no deserto de nós dois.
Trilhas de algodão, caminhos de amanhã,
resquícios de um sonho que passou.

3 de maio de 2006

Desses passos pesados de calçada molhada
e olhares escondidos de guarda-chuva,
o aconchego da chegada.
Se parte, reparte, retorna.
Não saio de onde vim nem chego onde estou
- me restam as marcas do caminho.