27 de fevereiro de 2011

Conta-gotas II

. a música, em mim, nasceu da disputa;

. foi preciso adocicar a canção que desperta;

. fujo, sem saber ao certo de que;

. ... disto que encontro?

. o enfrentamento e a entrega fundem-se neste líquido-cor-de-anseio;

. é possível pedir a estrada, quando não se tem o passo?

. é possível sentir saudade do irrealizado?

. no sonho: a placa cai, a pétala se abre, o desaparecimento à espreita;

. o que seria, se fosse?

. compor o que comporia se compusesse;

. impostergável surdez do ao redor;

. como explicar a ausência?

. da escrita diminuta à palavra entorpecida;

. da divagação ao prazer.

.
das cores

Era seu ponto de discordância, acima de tudo. Qual hipérbole de seus devaneios, um quadro cuja imagem parecia remeter a algum ponto de infinito.

Ele tinha cores, ofuscava pelo brilho, feito dia de céu azul. Ela tapava as frestas, antes da luz. Afinal, onde residia o resguardo?

Ela percebia-se a artificializar o mundo, às meias. O quadro, por seu turno, convocava ao deslumbramento da forma distorcida.

(As roupas secavam com os resquícios.)

Parecia, enfim, uma certa composição entre a horizontalidade e a pungência. Entre os livros que dormem e os livros que, despertos, tramam preces de acolhida.



24 de fevereiro de 2011




Preâmbulo

É a tensão entre a métrica
e o desatino. Avidez,
feito sede incontida.
Conjuga a trama deste corpo
em seu transbordamento.

(Do que tangencia
o impossível).

Um a postular a valsa, outro a me assoprar
o ruído. Um a querer-me na retidão,
outro a ensejar-me
o disparate.

(Deste, entrego-me ao insensato).

O primeiro quer, do todo,
extrair justo o mais
de mim.

(Exausta da palavra certa empoeirada e
trôpega,
desejo o poema).

É preciso, então, ceder lugar
à palavra-música.
À nota dissonante, que estremece
o corpo,
que me toma em calafrios.

(Desejo ensandecido da palavra rubor
da
palavra viva como nota).

Quero ler como
quem ouve; e só posso escrever
como quem toca.