18 de agosto de 2009

Café com Lacan

"Há sempre coisas que não colam. É um fato evidente, se não partimos da idéia que inspira toda a psicologia clássica, acadêmica, ou seja, a de que os seres humanos são seres adaptados, como se diz, já que vivem, e portanto que tudo deve colar. Vocês não são psicanalistas se admitem isso. Ser psicanalista é simplesmente abrir os olhos para essa evidência de que não há nada mais desbaratado que a realidade humana. Se vocês creem ter um eu bem adaptado, razoável, que sabe navegar, reconhecer o que tem de ser feito e o que não tem de ser feito, levar em conta as realidades, não resta senão mandá-los para longe daqui. A psicanálise, nisso se juntando à experiência comum, mostra-lhes que não há nada mais estúpido que um destino humano, ou seja, que sempre se é passado para trás. Mesmo quando se faz alguma coisa que dá certo, não é justamente o que se queria. Não há nada mais desiludido que um senhor que chega supostamente ao cúmulo de seus votos, basta falar três minutos com ele, francamente, como talvez só o artifício do divã psicanalítico o permite, para saber que, no fim das contas, esse lance é justamente o lance de que ele zomba, e que ele está, além disso, particularmente enfastiado com todas as espécies de coisas. A análise é perceber isso, e levá-lo em conta.

Não é por acaso, porque isso poderia ser de outro modo, que por uma sina estranheza atravessemos a vida sem encontrar ninguém que não infelizes. Dizemos para nós mesmos que as pessoas felizes devem estar em alguma parte. Pois bem, se vocês não tiram isso da cabeça, é que não compreendem nada da psicanálise".

14 de agosto de 2009

Quiçá seja pelo terrorismo da gripe, mas a verdade é que teve início já antes disso. Ou, talvez, pelo frio descomunal que nos assolou este inverno. Mas a verdade é que nunca desejei tão intensamente - e às avessas de meu usual - a chegada dos ares primaveris. Hoje levantei cedinho, único dia da semana em que não preciso madrugar e sair de casa às pressas. Senti uma vontade louca de abrir as janelas: fui escancarando uma a uma. Tomei meu café com aquela brisa da manhã entrando na sala, lembrando da vida que há em frente. Senti até vontade de retomar minha planilha de leituras, ociosa há dias, empoeirada como o frio. Vontade de esconder as botas no armário, igualmente os casacos, e andar mais leve por aí. Hoje o dia se anuncia ameno. Diz o site de ZH que teremos um final de semana quente. E que o sol inspire também novas letras por aqui, pois este blog vem penando um inexplicável abandono. A ver, a ver.