4 de janeiro de 2015

De caminhos e tempos

Gestar pela primeira vez é intensidade: o coração estupefato das descobertas. Novidades e sensações novas se sucedem a cada dia, emoções que transbordam pelo corpo e pela alma. O primeiro filho, ao nascer, carrega importantíssima e singular missão: fazer nascer seus pais. Travessia que começa no resultado positivo do exame e, já me parece, não termina nunca. Ser mãe e pai é reinventar-se constantemente. 


Porque Vicente cresce! Cresce a olhos vistos, e tão rápido, e tão forte, que por vezes não me escapa o espanto. O tempo voando... De bebezinho que (só) adormecia longas horas no calor do meu colo a guri que desbrava o mundo, pinta e borda, que já reconhece letras e números, que - no auge da descoberta da linguagem e do poder da prosa - nos surpreende a cada dia com uma pérola nova. Com seu amor ímpar pela vida que me oxigena todos os dias. 


Gestar pela segunda vez é serenidade. É travessia advertida: como atravessar um rio que sabemos das turbulências, mas já também mais cientes da nossa força. Ter um filho nos faz descobrir que podemos muito, muito mais do que pensamos. E, assim, Francisco vai chegando em nossas vidas de forma tão natural e tranquila quanto avassaladora. E eu, que desta vez desejei e desejo que o tempo de gestar passe devagarzinho, querendo curtir cada fase com todos os seus sabores, me vejo num piscar de olhos praticamente na metade do caminho. Já! Olha aí o tempo voando outra vez...


Vicente, a seu tempo, vai descobrindo Francisco; e nós também vamos nos descobrindo como nova família, agora um quarteto, já antevendo as infinitas aventuras que a vida nos reserva. Acolho com reverência, respeito e amor infinitos os já constantes movimentos dele em mim: quão maravilhosa é essa sensação de companhia e afagos constantes. 


Francisco, e nosso trajeto suave, me permite relançar alguns caminhos e apostas. Que não seria possível sem a travessia que vivi junto de Vicente, e que só ele poderia me ensinar: da desconstrução das certezas, da entrega sem reservas, do pular de olhos fechados ao abismo do indizível do amor. Este amor que só mesmo um filho pode nos fazer descobrir. 
E começo o ano embebida desta calorosa gratidão: por eles, nossos meninos, sentido e razão maiores que eu e Mateus poderíamos descobrir nesta existência.