12 de setembro de 2007



Das constatações do cotidiano:

. Estou absolutamente mergulhada nas palavras. Elas me cercam por todos os lados, em todas as horas. Livros, xerox, polígrafos, anotações e afins se esbaldam na escrivaninha, na cama, nas prateleiras. Os privilegiados andam na bolsa, mas sofrem com os maus tratos do choque permanente com a carteira e a necessaire. Os que me fazem fugir, escondo na gaveta. Os da ordem da urgência, há uma cestinha estrategicamente posicionada. Apenas lamento o temporário distanciamento da poesia: a literatura precisou ficar na lista de espera.

. Este calorzinho leve e sossegado que paira no Porto tem me causado estranha sensação de liberdade: me alivia, subitamente, poder deixar respirar os pés. De vez em quando, os dedinhos até dão uns pulinhos de felicidade, comemorando o período nascente de hibernação das botas de bico fino.

. Da janela do meu atual dormitório (mais conhecido como o 'quarto-do-líder', pelos demais membros deste apartamento), tenho uma visão imensa e povoada: infinitos prédios, incontáveis janelas, algumas poucas árvores. Desta mesma janela, guardo a lembrança de meu primeiro dia nesta cidade, há quase oito anos: os pais haviam ido embora, e eu ficara por cá um tanto contrariada. A primeira imagem que eu guardo da cena que esta janela me expõe é embaçada e nebulosa: entre muitas lágrimas, eu olhava aquele horizonte de concreto e tinha medo da grandiosidade da cidade, a qual teria que desbravar.

. Hoje, o estranhamento vem com o silêncio.

. Antigamente, acordava às 6 horas da matina, pontualmente, com a maior disposição. O despertador tem sido cada vez mais cruel. Com vinte e quatro anos, há que se dispor de um celular com toques musicais suaves e um dispositivo de soneca apto a trabalhar ad-infinitum.

1 de setembro de 2007



Ainda e sempre

Para o que der, mas e o que vem,

de incerto faz suar a alma

de corpo liquefeito acaricia

a visão embaçada de um verde infinito.


E vamos de pé, a pé, sem hesitar:

o pulo do outro atesta meu pulo, o canto ao lado

faz ouvir o meu,

aqui dentro.


A rede grita, imortal é a história,

tricolor é a camisa que nos atravessa.

Não termina o sentimento,

não se esgotam as lágrimas,

nem os sorrisos,

nem os suspiros que não cessam

de acreditar.


Bebemos vinho,

bandeira trêmula balbucia a nota que rasga os sentidos:

de alma azul celeste te seguimos,

ainda e sempre,

por toda parte.