27 de abril de 2007

Do blog de Fabrício Carpinejar, uma inquietação:

"Necessitava urgentemente de um quartinho para não-ser. Um quartinho da inexistência - todos deveriam contar com um, para manter seus segredos. Um quartinho para trabucos, objetos quebrados, mesas lascadas, amores excomungados."


Percebo a impreterível urgência da possibilidade de não-ser, de desmanchar-se, de diluir-se nas entranhas do desconhecido de nós. Eu tenho caixas. Nelas, tíquetes de cinema, cartas de amores passados, flores, festas, fotos. Diários de adolescência, encaixotados, mas de alguma forma sempre acessíveis. Guardo poemas e jornais, palavras e cheiros. Eu me guardo, num resguardo do esquecimento.

Valsa de Esquina


A nota canta a palavra cega; molha as folhas
secas, roga preces e desatinos.
Carrega, a nota, as dores num compasso:
passo, pedra, pranto.
Anseia, a nota, como se tela
em branco.
(Noto o mundo, na suavidade
de um desespero).
Há o ruído do amor, sozinho,
melodias em tom menor.
(Foi paixão à primeira vista,
em uma valsa de esquina).

20 de abril de 2007


(Re)paixão I


Hoje, teus olhos foram meu espelho.


(Re)paixão II


Reapaixonar-se é ainda melhor que apaixonar-se. É um somatório de desejos, na ânsia de um infinito.


(Re)paixão III


Lembra das florzinhas vermelhas?

17 de abril de 2007



Dos prazeres do sono

É cansaço morno, feito o pó que descansa nos livros da prateleira. Das cobertas, o acalento de um
corpo fatigado: como é bom esse instante onde ainda temos nítida a sensação de poder,
simplesmente, descansar. As idéias ainda rodam entre o armário, o espelho e os perfumes, mas
também se cansam. E então, num rompante, (me) esqueço – e adormeço.

11 de abril de 2007



Dança

É assim, manso e errante:
traços, tréguas, toalhas de mesa manchadas.

Os copos de requeijão e cristal dançam
valsa.

Rodam as idéias, o ar abafado
e a solidão.
Do violão, falta uma corda
(já não toca nosso samba
de outrora).

É assim, torto e burocrático:
trôpegos lençóis, tapetes desalinhados.
Desalinha junto, roça
um sentido vago.

As fotos trocam olhares
mudos.
No amanhecer, palavra-sombra. Desespero de letras e o sol berrante lá fora. Uma xícara de leite, assim, devagarzinho. As manchetes do jornal fazem tranças com os sonhos da noite, ficção de passos-de-algodão. Vou deslizando metonimicamente, sem querer, e a minha pauta: nunca estou pronta pra iniciar um dia.