29 de janeiro de 2007

A poeira borra ele, suja ele,
lambe
ele.
Se desfaz do espelho:
sol-de-pedra vencido.
A poeira é olho morto;
traça embaça esgaça.
E ele cai,
soluço torto.
Com barco de papel na lama
encalha.
Torce o corpo ao vento:
é preciso o silêncio patético
do escuro.

12 de janeiro de 2007

1.

Eu ando descalça porque me vive sentir o chão; terra nos dedos arde o remendo da pele. Eu ando descalça porque a vida me engole e me permito fingir que conheço meus passos. Eu gosto da pedra e da sina: "não cresças, menina, fique a três palmos do chão!". Por amor, obedeço, descalça, amanheço, do pálido - forte. A palavra também se sujou de areia e cascalho.

2.

De repente,
desconheço meus poemas.
Não sei mas,
nem mais, nem portanto.
Me desaprendi, assim,
num rompante.
Simplesmente, hoje,
estou a-mariliada.