12 de janeiro de 2011

Queda

O tempo dolorosamente contraído me apressa. Respiro sua afoiteza e permito que meu corpo seja inundado por seus reclames. Já não há como sustentar a espera. Resmungo a palavra. Tristes cápsulas desta presença que me consome. Tão farta delas, mas tão necessitada.

Disse outro dia de uma visita necessária. Será a última? Há uma placa caindo, no sonho. "Mais". Que faz-se menos.

Tanto tenho visitado, de fato, estas lembranças. Atualizam-se com uma força irreprimível. É preciso externar o pranto que ficara retido no emudecimento. No silêncio, a dor é cega.

Mais. Que ao cair, desvela a janela. A queda que precipita a visão. Que relança a possibilidade de olhar. É preciso abrir as cortinas, sair da penumbra. É preciso a coragem do olho.

(É preciso o despeito do ódio.)

Considero os riscos, hesito. É nebuloso ponderar de que adiante se trata. Tão banal quanto aterradora, a pergunta: que espero?

Podia voltar, junto do mesmo, o novo que dá saudade. As músicas que não toquei. O que poderia ter sido e nunca foi. Para embalar o que foi e o que sou. Notas suaves como a brisa da manhã, cheirosas como pó de café, leves como a poeira que sofro em ver se acumular.

(Monte. Do latim montis. Elevação de terreno. Anagrama: ontem)

Queda e subida. Queda e o olho que abre. Voz grave, olho agudo.

(É preciso amainar o olho e com-passar a voz.)