18 de março de 2013


Prumo

Retomo o passo, esburacada. Ainda bem que o tempo tem me permitido menos literalidades e mais poesia. Avanço colhendo os cacos dos inícios - estes, como de costume, tão intensos e estranhos. Avanço mais leve, entretanto. Um grande peso fica para trás, dores recolhidas que já quase viram poeira. Alguns ressentimentos na gaveta,  carecendo de melhores elaborações. 
Alguns novos entendimentos, em especial da história que já não me conta. Que coisa bela, e que coisa áspera, precisar re-ficcionar a vida. História que de tão doce e tão meiga e tão boneca de porcelana já não me cabe. Que as cores partiam menos por ternura e mais por esperteza. Que o motim é menos da moral e mais do prazer secreto da transgressão. Olho no espelho aliviada: a pintura tem mais liberdade. 
Não sei se a vida começa aos trinta, mas algo de novo em mim começa a ganhar forma nesta passagem. Os braços exauridos recobram a força: a outra margem do rio era apenas ilusão.