21 de março de 2008

Tanto de mim ou Quase tão pouco

Então resolvo, não sem alguma hesitação, aceitar o fato de que a procrastinação de meus deveres, tão bem interpretada por mim mesma no decorrer das longas horas que antecederam este escrito, não findaria tão cedo. Não por ora.

E, de súbito, uma louca vontade de visitar-me em meu próprio blog, em estado de inércia já há um tempo considerável (primeiro de fevereiro, descubro agora), como que em uma ânsia de encontrar algum de meus fios soltos por aqui, qualquer deles.

Um intervalo mínimo, ínfimo, íntimo, estranho ou alheio, através do qual eu pudesse vislumbrar um sentimento outro perante este final de sexta-feira, dita santa, nesta noite que já cai silenciosa e inócua, com os ruídos de meu ar-condicionado cantarolando sua incansável melodia em meus ouvidos, o abajur já quente e cansado em sua tentativa de alumiar minhas idéias, os livros empoeirados perguntando-se quando enfim eu voltaria a tocá-los, quando enfim eu deixaria estes burocráticos acizentados textos fotocopiados em uma esquina qualquer de lado para voltar a deleitar-me com o prazer outro das palavras.

O cheiro do café vencido e a angústia das incertezas: eis a vida, este irremediável palco de nossos desassombros e devaneios, implacável em sua passagem metódica das horas e dos dias, empurrando-nos adiante mesmo quando não sabemos ao certo para onde ir.

Palco onde as cenas nos acompanham como sombra, fazem-nos repetir de infinitos modos os mesmos teatralizados papéis, quase os mesmos diálogos - contudo, há sempre os felizes e satisfeitos desavisados, contentes com suas novas fantasias de lantejoulas e paetês, ansiando o brilho alienado de quem não ambiciona mais que a reciprocidade da mesquinharia cotidiana.

Para os que estranham o cheiro de naftalina ou se cansam de interpretações baratas, sobram poucos ouvintes.

Há os deveres a cumprir, chatos demais. Porém, para os prazos, pouco importam nossos dissabores.

Há o desencontro quando já não se pode distinguir vontade, conveniência, medo ou coragem de acolher aquela pontinha de desejo berrando lá ao fundo.

Há os prazeres à espera. Ao menos, há que tirar-lhes o pó eventualmente.

Num entre-tempo, as horas inúteis de uma entrega quase covarde a uma inércia não-pensante.

Valho-me de astuciosos produtos televisivos e cibernéticos para tanto.

Mas eis que, ao escrever-lhes, este outro tão próximo e desatinado de mim, vem a vontade de passar um novo café e, quiçá, voltar a trazer para este humilde espaço minhas singelas inquietações e desassossegos.

Bom final de semana prolongado a todos!