27 de junho de 2008

Parêntes(es)

E foi então que abrimos um parênteses afoito, quiçá intentando outorgar lugar às palavras convalescentes – letras não desenhadas, sagazes em seus espelhos. Consigo transgredir o que até então soava inexpiável. Viramos os olhares ao avesso.
Partilhamos reticências, outrora ponto simplesmente, espio pelas frestas do encontro, cautelosa, em adágio.

16 de junho de 2008

O silêncio

Era riso, prosa, verso: um a um, ao longe, escorregando por seus dedos, fazendo enrubescer a face, levando as canções tão piegas, as cartas, os cheiros. Um a um, de volta ao tempo, um a um, a desembaraçar preces, a reviver noites e dias, noites e dias, noites e dias.

Era um respirar ofegante, um a um, caindo como poeira, difusos no ar, entremeados de agora, afugentados do olhar. Caíam. Voavam. Luziam. Voltavam. Fugiam.

A mão agarrou com força, nem ar encontrava, eles caíam e já fugazes, já perdidos, já passado, já ausência. O tempo então outro tempo, e mais outro, e mais outro, e o infinito, e o infinito como o grito que acalentou, como o grito que evanesceu, como o grito que a boca não gritou.

Chorou, nem por tristeza, nem por festim.

13 de junho de 2008

Redenção

Deitou-se lentamente no carpete há pouco colocado, ainda cheirando a novo, embriagou-se daquele cheiro-desatino. Quis tocar bem ali, na dor, mas a dor por ora doía além da conta, a pele se ressentia do toque, o corpo encolhido de susto e deserto.

Quis pegar o telefone, convidá-lo a tomar algo, dizer a outrem das horas lastimadas: a lágrima escorre, ele jamais poderia supor. Quis alimentar o vazio com um chá de camomila naquela xícara de porcelana, em vão tentou mudar seus quadros de lugar - as cores lhe voltavam tortas, em uma nítida sensação de que nada então seria o mesmo.

E todas as cores eram branco-hospital. E pulsavam e ardiam e gritavam.

Quis sentir raiva, porém, sem forças, deixou-se levar pelo torpor daquele final de tarde e do cansaço inexaurível. Havia um suave quebranto no vento em notas graves. E ela então sonhou com o vestido azul-de-baile.

3 de junho de 2008

Deste amor tão nosso

Os arrepios não cansam de lembrar a deliciosa sensação de, num repente, estar entregue a um amanhã infinito - e tem algo de novo, de olhar e toque, de cheiro e saudade, de desejo e encontro.

Eu arrisco ousar e tu me levas pela mão.