16 de junho de 2006


Dela

Depois que tudo se aquieta, então me (re)colho. Produzo um saber anexo de mim. Cansei de me debater entre o vento e o incômodo ruído da vida, logo ali ao lado. Por não ter lugar, me retiro. À noite me é possível criar dentro do nada algo minimamente meu; respiro a ilusão de ser alguma coisa. Não sou e não sei.

Meu pensamento e minhas lembranças me revoltam num frio que sopra aqui dentro do corpo. Como uma rachadura que vai se delineando, lentamente, na parede. As idéias estão sempre lá, não as vemos se produzindo – mas há um dia em que nos deparamos com a parede cortada.

Minha parede, além de rachada, já está com a tinta vencida. Lhe caem pedaços, pedaços inteiros, crostas de um ser bruto e brutal demais para minha delicada existência. Não consigo com essas brutalidades.

Respiro e insisto, aqui nesse pedaço meu de algo que não tenho.

E me entrego ao sono como num corpo que se desmorona ante uma vertigem; caio, na esperança de um sonho.

Um comentário:

alice disse...

se for cair, que seja devagar.
estou aqui atrás pra te segurar.
racha parede, racha palavra,
assim não te rasga o corpo no meio:
antes uma parede que o telhado.