23 de junho de 2006


Dica pra qualquer final de semana - documentário do Nelson Freire, DVD duplo. MUITO bom.


E uma homenagem ao futebol feminino da Clínica. Do nosso jeito, vamo que vamo!
Uma nota

... de abismo púrpura deserto de mim dor de ti me perco num gole me morro me abro não entro te vento tal como a árvore expulsa a flor e colho flor e navego poesia e me sonho me gozo destroço apalpo se quebro regenero não sopro teu corpo perdão amores meus se me assombro apesar dos anos aqui se profanam também sujas palavras me vivo e me espero se não sei alívio ser deserto se me cerco te respiro quebro meu olhar de reflexo piano que espelho que nota menina voa na sala me fala me murmura e te escrevo vem que te deixo entrar não saias que vivo melhor em ti...

19 de junho de 2006

DO ARQUIVO DE POESIA:

CONTRASENSO

O caos é nítido,
porém nebuloso; é um contrasenso,
na contramão dos sentidos.

Pouco a pouco, vamos nos perdendo diante do abstrato,
daquilo que não está pronto.

Da palavra que não veio congelada e embalada
pra microondas.
Dos desejos que não estão à venda em vitrines de shoppings.

Chega de pensamento fast food.
De informação-linha.

Precisamos de mais argumentos e menos
consumismo barato.

(precisamos de mais interação
e menos aprisionamento).
Onterminatucomeçaeu?

17 de junho de 2006




Engoli teu beijo açucarado de despedida;
já no primeiro instante, me ressinto.

Sinto teu ir, beijo esvaziado na ânsia de outra vez tornar-se cheio.

De plenitudes, bastam as ilusões:
te quero na nossa tão nossa imperfeição.

16 de junho de 2006


Dela

Depois que tudo se aquieta, então me (re)colho. Produzo um saber anexo de mim. Cansei de me debater entre o vento e o incômodo ruído da vida, logo ali ao lado. Por não ter lugar, me retiro. À noite me é possível criar dentro do nada algo minimamente meu; respiro a ilusão de ser alguma coisa. Não sou e não sei.

Meu pensamento e minhas lembranças me revoltam num frio que sopra aqui dentro do corpo. Como uma rachadura que vai se delineando, lentamente, na parede. As idéias estão sempre lá, não as vemos se produzindo – mas há um dia em que nos deparamos com a parede cortada.

Minha parede, além de rachada, já está com a tinta vencida. Lhe caem pedaços, pedaços inteiros, crostas de um ser bruto e brutal demais para minha delicada existência. Não consigo com essas brutalidades.

Respiro e insisto, aqui nesse pedaço meu de algo que não tenho.

E me entrego ao sono como num corpo que se desmorona ante uma vertigem; caio, na esperança de um sonho.

9 de junho de 2006

No escuro

Escuto o ar, o silêncio é musical; pausa de um entre dizeres, entre sonoridades, barulhos quaisquer. O silêncio canta - há quanto tempo não reparava nisso. E a regência fica por conta do vento (que entra, num pianíssimo, pela fresta da janela).

6 de junho de 2006



Na mesa ao lado, no café após o almoço, entre tragadas de cigarro e goles de um expresso quente, ela escrevia com expressão sofrida. Os olhos encaravam o mundo pelo intermédio de um óculos (bem) escuro. A caneta tremia nas mãos, a palavra teimava em não sair, ou quiçá saía e não podia ser escrita. A mão tropeçava no ar, a folha em branco. Uma letra ou outra, rabiscada. Não consegui concentrar-me no meu café nem na leitura da revista: acompanhei os momentos daquela escritura com o canto do olho. Um amor perdido, uma saudade, um carinho? Fosse o que fosse, parecia que aquele papel era, de fato, muito pouco.

1 de junho de 2006


DA SÉRIE "MOMENTOS EM FAMÍLIA":

Apresentando meu avô gaiteiro que, ao contrário do que tentava nos dizer (pura ladainha), não desaprendeu a tocar. E como toca!!!

E a família dança... ô coisa boa!



Queria das palavras cruas seu sentido sucinto.
Mas não caibo nas letras sem adjetivos -
quando vejo, já estou a tecer metáforas e lirismos.

Queria a ponta grossa, a escrita curta, o tempo breve.
A palavra que cala.
Queria a palavra nua e minha e deserta.
Incerta.

Mas, por tantas vezes, o deleite se dá com ares de sentimentalismo.

Da secura, não consigo. Almejo o compasso finito, mas me escondo na partitura
que não acaba.

Acho que estou escondida por trás da poesia cotidiana, dos versos dos meus dias,
das letras que vão costeando meu caminho.

Não estou sozinha, seu esparramar-se me acompanha.