18 de janeiro de 2008

À espera

I.
Havia uma cadeira para quem aprouvesse. Alguns tapetes
calados e outros quadros
dormentes.
Havia uma acidez lânguida deslizando entre as sombras da persiana;
ele olhava o relógio de cinco em cinco minutos,
para não perder a preciosidade
do ócio.

Havia uma cadeira sempre
à espera.

II.
Um olhar outro na janela:
ele olha o relógio impaciente
de reciprocidade.

III.
Agora é abismo ardente e sufocante,
senta na cadeira, quiçá seu olhar alcance maior distância:
quando desencontro,
irremediável insônia.

Fez-se ausência presente
tão viva,
tão nova,
que os quadros parecem despertando
do sono de uma vida.

11 de janeiro de 2008

200000000000000000000008

É paradoxal a percepção do avesso tão mesmo de meus prazeres. Preciso tanto de espaços de silêncio como de silêncios espaçosos, que dão vazão aos ruídos. Eu sossego com o silêncio dos pequenos barulhos que aconchegam a alma.
Há um silêncio, vivo e meu e necessário. Desde sempre, mesmo na inquietude de outrora, busquei minhas hiâncias. É um silêncio que me acompanha de forma indelével. Por vezes alegre, por vezes sôfrego, por vezes se esquece de mim entretido em seus vazios tantos.
Fica uma sensação, contudo, de que cada vez mais não há lugar para o silêncio. Nem de si mesmo, nem do outro. As pessoas atropelam o tempo na ânsia de preencher todos os espaços, consumir todos os prazeres, cumprir todos os deveres morais-sociais-ideais, tamponar todas as suas necessidades, barulhar os vazios inoportunos que interrogam sobre coisas que, afinal, deixa-se para pensar sempre uma outra vez.
Quando alguém me pergunta: 'por que estás quieta?', esboço distintas respostas, mas não consigo devolver mais do que um certo silêncio de poucos ruídos. Precisamente, é deste espaço outro que não falo. Por ora, parece-me que em geral se extravasa em excesso na tentativa de prescindir de uma e qualquer abstenção.

Que 2008 lhes seja repleto de (a)temporalidades...