23 de abril de 2013


Ele aprecia decorar a casa com as sobras e lembranças. Na contramão de minha ânsia em esvaziar espaços, dá lugar ao sem lugar - colorindo com viagens e passeios a museus um velho armário e seus recônditos, pintando com histórias de jornal o refúgio das esponjas e sabões. Ficava tentando entender de onde vinha energia para tal empreitada, já que por ora o tempo vago é artigo raro, em geral usufruído na horizontalidade da cama ou do sofá. 

Até que um dia encontrei Vicente brincando com o balde estilizado de nosso passado. Babando efusivamente a entrada do Louvre e encantado com as cores portenhas. E então eu entendi. Entendi que há poesia no ato de colorir o hoje com o que fomos ontem, de alguma maneira inventando novos destinos, geográficos ou não. Que, de alguma forma, ao oferecer novos olhares ao esquecido, fazemo-nos família. Ali, salivando e barulhando a história de seus pais, ele adentra esta história e a transforma. O ontem já é outro, portanto.