12 de maio de 2013



Ao pequenino Vicente, no meu primeiro dia das mães.


Do ventre, guardo as andanças:
os trilhos que tu fazias sob a pele,
sedento de vida. Guardo as flutuações,
as ondulações,
e a lembrança tem forma de valsa.

Do choro, guardo o acalanto:
teu corpo colado ao meu, apertado,
aninhado,
na aflição dos aprendizes.
E a lembrança tem cheiro de leite,
doce e azedo a um só tempo.

(Eu, aprendendo a ser mãe. Tu,
aprendendo a ser filho).

Dos primeiro sorrisos, guardo a estupefação.
Como se na boca eu encontrasse o olho,
como se no olho eu te encontrasse,
e entendesse que éramos dois.
E a lembrança tem a textura macia das cobertas
sob os feixes de sol do começo da tarde,
estendidos ao chão num tempo infinito.

Dos primeiros movimentos, guardo a vibração.
De reconhecer-te, enfim, na tua velocidade de querer ser,
na voracidade de mundo, neste tempo que é o teu.
E então aprendi que meu lugar é a estar ao teu lado,
por vezes em silêncio,
testemunhando teus intentos,
apoiando tuas quedas,
partilhando tuas conquistas.
E a lembrança tem gosto de laranja do céu
e desenho de brisa do vento.

E hoje acarinho teu rosto
que já ganha forma de menino.
(Quando, à noite, ainda nos embalamos,
musicando o afeto e compassando a alma).
E o amanhã tem cheiro de grama,
feito rabiscos de encantamentos e aventuras.
Tem o calor amoroso da tua presença
e  sabor do universo de histórias que, juntos,
iremos viver.