12 de junho de 2012

Uma manhã de terça-feira


É estranho. Pensar que tão próximo estamos da dita estabilidade quando, mais do que nunca, sentimo-nos tão... instáveis. Fico a me perguntar em que momento a vida ficou tão séria. Quando foi que as planilhas do Excel - com seus intermináveis planejamentos, contas, prospecções - tomaram mais espaço na área de trabalho que a poesia, que a leveza da uma nota qualquer sorrateiramente escrita ao embalo de um cálice de vinho e um Chopin ao fundo. 


É estranho, e assustador ao mesmo tempo, perceber as circunscrições e contornos, quando por tanto tempo prezamos pelos silêncios que caminham ali mesmo, no desborde. Difícil alojamento na linha tênue que divide a métrica e a inexatidão. Que divide o esperado e a dimensão de surpresa que cada dia carrega. Que divide a rotina e a pungência, os ideais e a névoa. 


(O corpo, a forma, o disforme).


Acolho, por ora, a beleza do olhar ofuscado, temeroso, que não sabe ao certo por onde trilha, mas que não se exime a seguir o passo. Caminho, um pouco, no escuro. A tatear os anseios e receios, vontades e desatinos, como quem se deixa arranhar pelas asperezas, que não se furta ao desassossego. A traçar novos horizontes de leveza. 











3 comentários:

alice disse...

Questões que estão aí e aqui e ali.

Quando foi mesmo que siso aconteceu?

Habitar um estado melancólico tem sido um desafio muito maior do que eu pensava. Tristeza de encontrar-se adulto?

Preciso de um pouco menos de desespero, um pouco mais dessa vertigem que empresta emoção ao caminhar...

Marília disse...

Lica querida: "Habitar um estado melancólico" é uma boa definição para meu momento. Embora haja um intervalo entre a melancolia e a tristeza. Uma música em tom menor, não necessariamente entristecida.

Talvez se trate mais de perceber que a passagem do tempo revoga alguns pontos de mirada, ao passo mesmo em que nos abre outros ângulos de olhar. Não deixa, contudo, de nos convocar a um trabalho de luto, pelos resquícios adolescentes que se perdem... ser "adulto": o que isso implica, afinal de contas??
Inventemos, pois, novos modos de fazer furo, de ceder espaço ao desejo, que ele adentre nossos poros. Um brinde às arestas, às frestas, aos redemoinhos. Um brinde à inquietude e ao encanto...

p.s: eu e o filhote vamos bem, crescendo e aprendendo lindas coisas nesta convivência já tão intensa.

alice disse...

Querida.

Um sinal desses furos tem sido meus atos falhos. Percebi que no comentário também fiz um: "siso" no lugar de "isso"... Ou ao menos torço pra que sejam mesmo os furos que estão podendo ser feitos!

Queria poder ter um fim de tarde e início de noite em que a gente pudesse, como já fizemos, se deixar levar pelos papos, silêncios, uns goles de vinho ou de suco de uva ;) E ir tricotando essas coisas...

beijos pra ti e afagos pra esse serzinho aí dentro!