30 de abril de 2009

Com(partindo)

. Mateus há tempos desejava uma escrivaninha, cerceada de nuances um tanto complicadas na compatibilização com nosso orçamento de uma incipente vida em comum. Para tudo ele se deleita em esmiuçados planejamentos; tendo o Excel como melhor amigo, estabelece pesquisas, alicerça possibilidades, anota infindáveis métricas e hipóteses. (Eu entraria na primeira lojinha e já me encantaria com a primeira possibilidade). Ele compasso, eu rompante.

Então ela chega, ocupa o lugar da poltrona, desordena meus livros e causa um efeito dominó que vai se estendendo por todo o apê. Inquieta minhas disposições padronizadas. Me convoca a mudar a posição no sofá, a alterar o ângulo da luz, a reposicionar aqueles pequeninos vasos que (então lembrei) havia comprado em um final de tarde do inverno passado - um dia em que saí da Clínica decidida a juntar minha escova de dentes, entrei num 1,99 da Protásio e marquei simbolicamente o primeiro objeto de um então futuro ainda inexistente.

E brindei o desassossegar de mim.

. Deste lugar de escuta:

“(...) a tal ponto que se pode dizer que, onde há espera, há transferência: dependo de uma presença que se divide e demora até me prestar atenção – como se se tratasse de fazer morrer o meu desejo, de abandonar a minha necessidade. Fazer esperar: prerrogativa constante de quem tudo pode, ‘passatempo milenário da humanidade”. (Roland Barthes - A espera)

Um comentário:

alice disse...

hahaha!
já imaginei a cena...
aqui, uma das primeiras coisas adquiridas foi uma escrivaninha, segundo a qual o resto se acomodou.

o prédio se chama "Marília de Dirceu".