18 de agosto de 2009

Café com Lacan

"Há sempre coisas que não colam. É um fato evidente, se não partimos da idéia que inspira toda a psicologia clássica, acadêmica, ou seja, a de que os seres humanos são seres adaptados, como se diz, já que vivem, e portanto que tudo deve colar. Vocês não são psicanalistas se admitem isso. Ser psicanalista é simplesmente abrir os olhos para essa evidência de que não há nada mais desbaratado que a realidade humana. Se vocês creem ter um eu bem adaptado, razoável, que sabe navegar, reconhecer o que tem de ser feito e o que não tem de ser feito, levar em conta as realidades, não resta senão mandá-los para longe daqui. A psicanálise, nisso se juntando à experiência comum, mostra-lhes que não há nada mais estúpido que um destino humano, ou seja, que sempre se é passado para trás. Mesmo quando se faz alguma coisa que dá certo, não é justamente o que se queria. Não há nada mais desiludido que um senhor que chega supostamente ao cúmulo de seus votos, basta falar três minutos com ele, francamente, como talvez só o artifício do divã psicanalítico o permite, para saber que, no fim das contas, esse lance é justamente o lance de que ele zomba, e que ele está, além disso, particularmente enfastiado com todas as espécies de coisas. A análise é perceber isso, e levá-lo em conta.

Não é por acaso, porque isso poderia ser de outro modo, que por uma sina estranheza atravessemos a vida sem encontrar ninguém que não infelizes. Dizemos para nós mesmos que as pessoas felizes devem estar em alguma parte. Pois bem, se vocês não tiram isso da cabeça, é que não compreendem nada da psicanálise".

Um comentário:

alice disse...

saudade das tuas notas
saudade de ti
e do brilho do teu cabelo pesado à luz de um abajur num fim de tarde frio
um papo desses e a gente rindo entre amigos
atiradas no sofá, edredon
um cara vermelhinho nos divertindo
e a história da mesa
eu terapeuta de casal???
saudade de momentos compartilhados!