13 de junho de 2008

Redenção

Deitou-se lentamente no carpete há pouco colocado, ainda cheirando a novo, embriagou-se daquele cheiro-desatino. Quis tocar bem ali, na dor, mas a dor por ora doía além da conta, a pele se ressentia do toque, o corpo encolhido de susto e deserto.

Quis pegar o telefone, convidá-lo a tomar algo, dizer a outrem das horas lastimadas: a lágrima escorre, ele jamais poderia supor. Quis alimentar o vazio com um chá de camomila naquela xícara de porcelana, em vão tentou mudar seus quadros de lugar - as cores lhe voltavam tortas, em uma nítida sensação de que nada então seria o mesmo.

E todas as cores eram branco-hospital. E pulsavam e ardiam e gritavam.

Quis sentir raiva, porém, sem forças, deixou-se levar pelo torpor daquele final de tarde e do cansaço inexaurível. Havia um suave quebranto no vento em notas graves. E ela então sonhou com o vestido azul-de-baile.

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