Ao pequenino Vicente, no meu primeiro dia das mães.
Do ventre, guardo as andanças:
os trilhos que tu fazias sob a pele,
sedento de vida. Guardo as flutuações,
as ondulações,
e a lembrança tem forma de valsa.
Do choro, guardo o acalanto:
teu corpo colado ao
meu, apertado,
aninhado,
na aflição dos
aprendizes.
E a lembrança tem
cheiro de leite,
doce e azedo a um só
tempo.
(Eu, aprendendo a
ser mãe. Tu,
aprendendo a ser
filho).
Dos primeiro
sorrisos, guardo a estupefação.
Como se na boca eu
encontrasse o olho,
como se no olho eu
te encontrasse,
e entendesse que
éramos dois.
E a lembrança tem a
textura macia das cobertas
sob os feixes de sol
do começo da tarde,
estendidos ao chão
num tempo infinito.
Dos primeiros
movimentos, guardo a vibração.
De reconhecer-te,
enfim, na tua velocidade de querer ser,
na voracidade de
mundo, neste tempo que é o teu.
E então aprendi que
meu lugar é a estar ao teu lado,
por vezes em
silêncio,
testemunhando teus
intentos,
apoiando tuas
quedas,
partilhando tuas
conquistas.
E a lembrança tem
gosto de laranja do céu
e desenho de brisa
do vento.
E hoje acarinho teu
rosto
que já ganha forma de
menino.
(Quando, à noite,
ainda nos embalamos,
musicando o afeto e
compassando a alma).
E o amanhã tem
cheiro de grama,
feito rabiscos de
encantamentos e aventuras.
Tem o calor amoroso da tua
presença
e sabor do universo de
histórias que, juntos,
iremos viver.
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