Afetações
I.
É pastoso. Escorre, mas com tamanha lentidão que me rasga em algum impossível. É grudento, dilatado, espraia-se por entre os mais ínfimos sussurros. Do grito à mudez, do murmurar ao silêncio.
(Andei todo o caminho com os olhos manchados de um negro-frustração).
O movimento é um sem mover-se. É amansamento da brisa, é apaziguamento do que pulsa, são lufadas de hábitos e velhosidades e ransos que recusam-se ao desassossego, que sonegam o descompasso, que atolam-se na inércia, que liquefazem o disruptivo, que achatam em uma melodia monocórdica os agudos, que não se privam de aplanar o desconcerto.
(Um como-foi).
E, em sua cegueira, estão a tatear-se na escuridão das lâmpadas fluorescentes. Afogamento da boca faminta e sedenta e ruidosa. Atiram-se pedras no moinho: e que cesse o giro, e que acomode-se enfim o cotidiano em seu mesmo, e que cada dia seja apenas um ontem a mais.
II.
Ali onde se toca o conto
e que de duas palavras, fez-se
canção.
Aspiro,
respiro,
inspiro.
Poemizo carregada de eu,
precisando diluir-me em alguma nota
dissonante,
algum noturno audaz
em sua brevidade,
quase
anestésico
do existir.
III.
E meu receio era do arrebatamento:
um corpo-ouvido
infinito.
Que de meus poros, a fugacidade
do sensível
perceba-se, em uma qualquer
manhã
desencontrada da afetação.
Nenhum comentário:
Postar um comentário